sábado, 29 de setembro de 2012

Atena resolveu nos visitar

Numa bela manhã não tão de sol, não tão nublada, ao longe na instituição de ensino onde habito todos os dias pelas manhãs, olho em direção ao céu e vejo que as árvores de alguma forma entraram em prumo. De alguma forma, o tempo estava agradável e mantinha um bom ambiente para a descoberta. A neotenia dos homens foi a loucura quando de repente surgiu no telhado uma figura pouco vista.

Era uma coruja, mesmo que pequena, de pé lá no telhado. Naquele momento, diversas pessoas vieram deslumbrar-se com aquela cena. Ela conseguia ter tantos pontos de vista quanto a sua cabeça conseguia girar. Era bonita e com olhar penetrante. Tinha poucos centímetros de altura e não saía voando, apenas observava em volta.

Quando começaram as badernas, ela apenas observou e virou a cabeça em sinal de completa repreensão. Não voou, pois tinha um trabalho a concluir. Por mais de 7 horas ela manteve-se em seu posto, olhando quem passava, ouvindo o que se dizia nas salas e curtindo o bom tempo que trouxera consigo.

Atena, deusa da sabedoria, completou seu relatório e saiu então quando ninguém mais ali estava.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Eros e Psique - Fernando Pessoa

    ...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
    que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
    aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
    Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

    (Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
    Na Ordem Templária De Portugal)
    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.

    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.

    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.

    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.

    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.

    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.


    Para quem não conhece o mito para fazer uma bela alegoria
    olhe logo, sem teimosia: http://www.recantodasletras.com.br/contos/2498777

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Canção do novo velho bardo

Uma estória tenho a contar
de grandes pontes e castelos pequenos.
Pouco luxo, mas muita aventura.
Romances alguns,
conclusos, nenhum.

De caso em caso,
passando pelas árvores,
trago vinho ao acaso,
para brindarmos mais tarde.

Sei que de ponto a ponto,
de verso em verso,
caminho ao certo,
para um sucesso inverso.
Não aquele que o velho rei queria,
nem o que o burguês buscaria.

O sucesso do bardo vem de sua agonia.
Quer a todo momento estar em sintonia,
seja ela na rua ou na fantasia,
na lua ou na simetria.

É sim de caso em caso,
passando pelas estradas,
que trago vinho ao acaso,
para subir comigo as escadas.

Subir nas asas de uma águia é coisa para poucos,
que assim como os que são loucos,
só o são para aos poucos
descobrir que muitos são os verdadeiramente loucos
e raros são os lúcidos que acham que são loucos.
Esses sim, são os bardos.

Aqueles que soltam um som,
e a seu compasso vão
criando uma história nova, tom a tom.

Cheiram de longe a satisfação
de uma tarde de sábado em seu clarão.
O último suspiro de um Sol intenso.
Um último soneto antes de o véu obscuro
pousar além do muro.

Traz assim,
de caso em caso,
a Lua linda que por acaso
brilha, pisca, domina e inspira
os corações dos velhos ratos rapsodos.

Carregando apenas papel,
tinta, um instrumento musical
e um verso ao teu sinal,
sigo ao rio para o merecido descanso.

Canto, danço e caio a teus encantos.
Mais uma vez, feliz e aos prantos
o novo velho bardo está ali,
em todos cantos
trazendo alegrias a recantos,
cantos e descontos,
o seu eu e o meu nos encontros
que tua alma faz com cada um dos acordes
que o velho novo bardo tocará em teu coração.

Se foi tocado ao acaso,
então feliz estarei,
pois nesse seu caso,
Como o bardo serei.
E no teu mais profundo eu,
o bardo também encontrei.